O
nosso leitor anônimo Pedro Amorim mandou essa matéria para o blog, onde o
passado do grande Zé Dirceu é contestado. José Dirceu, segundo o juiz
aposentado Sílvio Mota, seu ex-companheiro no treinamento de guerrilha em Cuba,
levou uma vida mansa, protegido e privilegiado por amigos de Fidel.
Um
Zé Dirceu diferente. O ex-ministro (acima) passava o tempo no cinema, conforme
o ex-companheiro Sílvio Mota (abaixo). No fim de semana que antecedeu o início
do julgamento do mensalão, o ex-ministro José Dirceu se recusou a participar de
uma solenidade destinada a festejar um período obscuro de seu passado. O ato
público, convocado por organizações de esquerda, pretendia relembrar o
Movimento de Libertação Popular (Molipo), um grupo formado por 28 exilados
brasileiros que treinavam guerrilha em Cuba nos anos 70. Dirceu, que era um
deles, achou mais prudente evitar a aparição pública. Além do ex-ministro, só
há mais dois sobreviventes do Molipo: o juiz aposentado Sílvio Mota e o
mestre-de-obras, também aposentado, Otávio Ângelo. Todos os demais foram mortos
pela repressão quando retornaram ao Brasil. Sílvio Mota, contemporâneo das
andanças cubanas de Dirceu, acha que o ex-companheiro fez bem em evitar as
homenagens: “Ele nunca combateu de verdade”, diz Mota.
Sílvio Mota sente-se à
vontade para desconstruir a imagem combativa do petista em sua passagem pela
ilha de Fidel Castro. Ele guarda na memória a figura de um militante
indisciplinado e cheio de privilégios. Segundo Mota, enquanto os integrantes do
Molipo participavam dos exercícios militares pesados, Dirceu levava uma boa
vida, protegido por autoridades cubanas. “Ele preferia passar seu tempo nas
salas de cinema”, conta. José Dirceu refugiou-se em Cuba em 1969, depois
de ter sido preso no Congresso da UNE, em Ibiúna, no interior de São Paulo, e
trocado pelo embaixador americano Charles Elbrick. Em pouco tempo, tornou-se
íntimo do então presidente do Instituto Cubano de Arte e Indústria
Cinematográfica, Alfredo Guevara, amigo de Fidel Castro. De acordo com o relato
de Mota, Dirceu passou, então, a se aproveitar dos poderes de seu protetor para
fugir do treinamento guerrilheiro. “Dirceu era indisciplinado. Não combateu no
Molipo, como também não havia combatido na ALN (Aliança Libertadora Nacional)
no Brasil”, diz Mota. Segundo o juiz aposentado, Dirceu logo conseguiu
abandonar em definitivo o treinamento. Alegava dores nas costas. Assim, pôde
livrar-se das horas seguidas de marchas na selva, sem alimentos na mochila e
cantis vazios. Em condições insalubres, os militantes do Molipo passavam
semanas sem banho, participavam de cursos de tiro e aprendiam a montar
explosivos. Todos, menos o ex-ministro, réu do mensalão. “O projeto de Dirceu
sempre foi pessoal. E quis o destino que terminasse aparecendo essa sua verdadeira
face oportunista”, diz Mota. O juiz voltou ao Brasil em 1979, quatro anos
depois de Dirceu. Depois da temporada em Cuba, os dois se viram poucas vezes.
Mota chegou a se filiar ao PT, mas não seguiu carreira política. De Dirceu,
prefere manter distância.
A entrevista - que dá origem a esta matéria - saiu na Veja e é mais indulgente com o Zé Dirceu. Por isso, como nos Clássicos, é preferível ler no original.
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