Músicas, Seriedades, Burridades e Coisas Ogonorantes.

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segunda-feira, 23 de junho de 2014

Ausência.

Há exatos 40 anos atrás perdi meu pai em um acidente de automóvel. Tinha ele 48 anos e eu 19 anos. Quanto gostaria que convivêssemos mais, mas o tempo que passamos juntos, embora curto, foi muito bom. Meu pai nesse lapso de tempo foi capaz de enraizar princípios morais e éticos que carrego comigo pelo resto da vida. Aprendi com ele a gostar da boa música, da bossa nova, do samba canção, do samba de raiz, do jazz ao clássico, e quem diria dos Beatles. Lembro que meu pai gostava muito de Something, The Long And Winding Road e Blackbird do grupo londrino. Foi com ele que passei a gostar de ler, li ainda bem jovem Monteiro Lobato, devorei uma coleção inteira de livros fantásticos sobre As Aventuras de Tarzan. Li também uma coleção que vendia nas bancas com literatura infanto-juvenil (Júlio Verne, Homero, Mark Twain, Robert Louis Stevenson, Daniel Defoe). Depois: Machado de Assis, Eça de Queiroz, Érico Veríssimo, Malba Tahan, Graciliano Ramos, Victor Hugo, Cervantes, Dostoiévski, Tolstoi, James Joyce, Oscar Wilde, Ernest Hemingway e muitos outros. Hoje me dedico à leitura de biografias de músicos e de autores consagrados. Meu pai também deixou comigo o humor refinado, que tento fazer sem a mesma genialidade. Foi com ele que aprendi a gostar de matemática, e por tabela a estatística, hoje meu ganha pão. Imagino se ainda fosse vivo, quantas coisas mais aprenderia com ele. A evolução da informática e o Prof. Renato juntos, dariam um salto muito grande na forma de aprender e transmitir conhecimento para muita gente. Recentemente um professor da UFPa. (João Batista do Nascimento), que não teve a felicidade de conhecer meu pai, descobriu o Prof. Renato e sua dedicação ao ensino da matemática. Leu sua única obra impressa (Teoria dos Conjuntos), e ficou maravilhado com a forma pelo qual ele explicava essa ciência. Era uma didática simples, de fácil entendimento e prazerosa de ouvir. Ainda hoje sou parado nas ruas por pessoas que tiveram a oportunidade de serem alunos de meu pai, para enaltecer essas qualidades e agradecer o que meu pai ensinou a eles. Prova inconteste de que seus ensinamentos eram e são perenes, sobrevivem ao tempo. Esse era o meu pai, cuja ausência até hoje não preenchi.

2 comentários:

  1. Nada preenche a ausência de um grande amor. Principalmente quando soçobramos ante a ignorância do mundo que nos cerca, tão sem humor e sem perspectivas minimas. Perdi meu pai em um julho distante. Quando há copa do mundo recordo o meu velho apaixonado por futebol. Lamento não ter podido mandá-lo assistir a um campeonato mundial. Era o meu sonho. Padeço, mas tenho orgulho daquele velho sábio de pouco estudo formal, mas lido demais. Essas recordações me fazem chorar. Bons pais, bons filhos. Nem sempre. O importante é nos sabermos.

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    1. Grande amigo Camilo, é bom demais falar do pai da gente.

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