A MORTE É DRAMÁTICA, O ENTERRO É CÔMICO,
E OS PARENTES, RIDÍCULOS. (Millôr)
“Millôr Fernandes era (e é!) o gigante filósofo do humor e do desenho. Sua proposta sempre foi a de desconstruir o poder, o status, as coisas ditas certas e o politicamente correto. Com ironia de gênio gostava de lembrar-nos, sempre, uma outra face da verdade. Lembro-me de suas críticas agudas e hilariantes que fazia ao mestre Oscar Niemeyer, meio que seu vizinho, com relação à implantação da atual urbanização da Avenida Atlântica no Rio de Janeiro. Ele não se conformava com a intervenção que buscava, principalmente, implantar áreas para pedestres e ciclistas no calçadão da praia de Copacabana que, de fato, com as dragagens executadas, tornou o banho de mar – tão bom -- uma coisa quase impossível para pessoas comuns. Millôr é o pensamento num corpo (agora, num Espírito). Em 2004 fiz uma individual na saudosa Elf Galeria do Gileno, tendo como pano de fundo a cidade, seus contrastes, personagens instigantes interativos, etc. Naquela época, coincidentemente, lera uma entrevista do Millôr em que ele protestava com relação à mídia e a propaganda generalizada com o uso dessas garotas que buscam promoção pessoal usando o corpo como veículo. Mais ou menos, dizia ele, um tanto anárquico: -- parece que tudo o que importa na mídia é a exposição do corpo dessas meninas; ora, eu também tenho direito e gostaria de sair nu numa revista... Então, em homenagem ao desejo dele, fizemos um quadro com sua inserção, porém pelado (imagem anexa). Ao lembrar agora, vejo que não me passava pela cabeça que num dia ele partiria, porém hoje nos surpreendeu, indo embora sem avisar. Resta então o incidente. Viva Millôr e seu humor filosófico que sempre nos mostrou o desenho e texto retos a nos chamar a pensar com ele. Que continue bom, lá no Alto.”
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