Sob o
título “Pedrinhas, um alerta à Nação“, o artigo a seguir é de autoria de
Antonio Sbano, Presidente da Associação Nacional dos Magistrados Estaduais
(Anamages).
A
magistratura estadual brasileira repudia os atos de barbárie ocorridos no
Presídio de Pedrinhas, Maranhão, bem como todos os demais noticiados no dia a
dia.
É dever
do Estado garantir a vida e a integridade física daqueles que, por qualquer
motivo, estão privados de sua liberdade. A omissão resulta em prejuízo à toda a
sociedade que é, ao final, quem arca com as indenizações devidas ás famílias.
Vivemos
uma grave crise de segurança pública em todos seus segmentos: na prevenção,
repressão e punição.
Todo o
sistema se vê esmagado por uma legislação penal e processual penal ultrapassada,
remendada sempre para dar mais e mais asas à marginalidade, sem se ver vontade
política em dar respostas aos reclamos da sociedade.
Nossa
polícia preventiva carece de melhor preparo e de recursos humanos, matérias e
tecnológico para enfrentar o crescimento da marginalidade; o mesmo se diga da
polícia judiciária, em especial as estaduais, transformadas em guardiões de
presos e desvirtuadas de sua função investigatória.
No campo
da execução das penas, o quadro é mais crítico, dando inveja às velhas
masmorras medievais: superlotação, locais infectos e sem condições de abrigar
seres humanos.
A
legislação é utópica, concede progressão de regime sem ter quem fiscalize as
saídas para trabalho ou visitas, resultando em fugas e cometimentos de crimes
durante a saída extramuros, vale dizer, delitos que nunca são esclarecidos
(enfim, o autor está preso!). Da mesma forma, as penas alternativas restam
desacreditadas pela falta de fiscalização.
Alguns
querem atribuir à lentidão do Judiciário a culpa pela impunidade: juízes não
legislam, apenas aplicam a norma editada pelo Congresso e se o Judiciário fosse
inerte não teríamos mais de 500 mil presos (ocupando 300 mil vagas) e mais de
uma centena de milhares mandados de prisão para serem cumpridos – e não são por
falta de eficiência policial e falta de lugar para custódia.
Enquanto
o estado burocrático caminha a passos lentos, o crime cresce com celeridade e
hoje, pode-se afirmar, demonstrando força e organização capaz de não se
intimidar nem mesmo com a presença da Força Nacional dentro do presídio.
O
cidadão de bem se tornou prisioneiro em sua própria casa e no trabalho, grades
até em apartamentos, lojas substituindo vitrines por paredes, deixando uma
única porta de grade como acesso, a sonhada segurança dos Shoppings sequer
resiste ao novel “rolezinho” de jovens criados sem limites e sem sentimento de
cidadania e educação.
Enquanto
legisladores e doutrinadores discutem mirabolantes teses sociológicas, a
sociedade padece esquecida e violentada.
Se
presos fogem, evidente que existe deficiência de segurança no sistema de
custódia.
Se
presos recebem armas, celulares e outros objetos ou, ainda, se emitem ordens
para o mundo externo é certo que tais ações contam com auxílio externo: de
visitas não revistadas com o devido rigor, de alguns religiosos, advogados e
agentes públicos, que se afastando de suas nobres missões se transmutam em
bandidos para servir de pombo correio dos que estão encarcerados.
Pedrinhas
é apenas a ponta de um enorme iceberg que aflorou diante do gigantismo da
carnificina ali instalada, mas que reflete a triste e deplorável situação dos
presídios brasileiros.
Além da
punição, a privação de liberdade deve ser vista, acima de tudo, como meio de
reeducação do apenado, de sua ressocialização e isto somente poderá acontecer
se tivermos prisões que respeitem a dignidade da pessoa humana, ofertando-se ao
infrator, menor ou maior, estudo, trabalho, educação social e atendimento
psicológico e, evidente, regime diferenciado para os que demonstrem não aceitar
as regras e a disciplina indispensáveis.
O
Conselho Nacional de Justiça, até se afastando de sua missão principal, tem se
esforçado meritoriamente em detectar as deficiências e, com relatórios de
visitas periódicas dos juízes às cadeias, enviado expediente às autoridades
competentes sem resultado positivo.
A administração e o
gerenciamento das prisões competem ao Poder Executivo que se demonstra omisso e
sequer aplica o total das verbas orçamentárias para a melhoria do sistema
prisional – prevenir ações criminosas e ressocializar o condenado se
constitui em investimento em prol de uma sociedade mais justa.
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