Há exatos
40 anos atrás perdi meu pai em um acidente de automóvel. Tinha ele 48
anos e eu 19 anos. Quanto gostaria que convivêssemos mais, mas o tempo que passamos
juntos, embora curto, foi muito bom. Meu pai nesse lapso de tempo foi capaz de
enraizar princípios morais e éticos que carrego comigo pelo resto da vida.
Aprendi com ele a gostar da boa música, da bossa nova, do samba canção, do
samba de raiz, do jazz ao clássico, e quem diria dos Beatles. Lembro que meu
pai gostava muito de Something, The Long And Winding Road e Blackbird do grupo
londrino. Foi com ele que passei a gostar de ler, li ainda bem jovem Monteiro
Lobato, devorei uma coleção inteira de livros fantásticos sobre As Aventuras de
Tarzan. Li também uma coleção que vendia nas bancas com literatura
infanto-juvenil (Júlio Verne, Homero, Mark Twain, Robert Louis Stevenson,
Daniel Defoe). Depois: Machado de Assis, Eça de Queiroz, Érico Veríssimo, Malba
Tahan, Graciliano Ramos, Victor Hugo, Cervantes, Dostoiévski, Tolstoi, James
Joyce, Oscar Wilde, Ernest Hemingway e muitos outros. Hoje me dedico à leitura
de biografias de músicos e de autores consagrados. Meu pai também deixou comigo
o humor refinado, que tento fazer sem a mesma genialidade. Foi com ele que
aprendi a gostar de matemática, e por tabela a estatística, hoje meu ganha pão.
Imagino se ainda fosse vivo, quantas coisas mais aprenderia com ele. A evolução
da informática e o Prof. Renato juntos, dariam um salto muito grande na forma
de aprender e transmitir conhecimento para muita gente. Recentemente um
professor da UFPa. (João Batista do Nascimento), que não teve a felicidade de
conhecer meu pai, descobriu o Prof. Renato e sua dedicação ao ensino da
matemática. Leu sua única obra impressa (Teoria dos Conjuntos), e ficou maravilhado
com a forma pelo qual ele explicava essa ciência. Era uma didática simples, de
fácil entendimento e prazerosa de ouvir. Ainda hoje sou parado nas ruas por
pessoas que tiveram a oportunidade de serem alunos de meu pai, para enaltecer
essas qualidades e agradecer o que meu pai ensinou a eles. Prova inconteste de
que seus ensinamentos eram e são perenes, sobrevivem ao tempo. Esse era o meu
pai, cuja ausência até hoje não preenchi.
Nada preenche a ausência de um grande amor. Principalmente quando soçobramos ante a ignorância do mundo que nos cerca, tão sem humor e sem perspectivas minimas. Perdi meu pai em um julho distante. Quando há copa do mundo recordo o meu velho apaixonado por futebol. Lamento não ter podido mandá-lo assistir a um campeonato mundial. Era o meu sonho. Padeço, mas tenho orgulho daquele velho sábio de pouco estudo formal, mas lido demais. Essas recordações me fazem chorar. Bons pais, bons filhos. Nem sempre. O importante é nos sabermos.
ResponderExcluirGrande amigo Camilo, é bom demais falar do pai da gente.
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