Essa história se passou com a turma do Miguel, lá no Mosqueiro, Solar do Inocentes. O Miguel era funcionário do Cartório Condurú, cujo tabelião era o meu tio Hermano, dono do Solar. Como o Solar dos Inocentes era muito requisitado durante as férias, feriados prolongados e finais de semana, e isso sempre representava uma facada no bolso do tio Hermano, que além de ceder gratuitamente o espaço, ainda bancava o café, almoço, jantar e merenda dos hóspedes, o titio resolveu equipar o barraco com luz elétrica, fogão e uma geladeira a gás. Depois disso, a turma que se atrevesse a pedir o Solar emprestado, tinha que levar o rancho e preparar a própria refeição, já que a mamata do BLT foi extinta, aniquilada da face da casa do titio. Sob essas novas regras a turma do Miguel foi passar uns dias no Solar. Levou tudo daqui, e lá chegando resolveram colocar ordem no recinto, para que tudo transcorresse sem problemas, e a galera pudesse curtir os dias de folgas de estômago cheio com a casa sempre arrumada. Assim sendo, foi estabelecido que diariamente uma pessoa ficaria encarregada da cozinha e de toda a faxina da casa, ou seja, teria que trabalhar para colocar o café, almoço, jantar na mesa, lavar a louça e arrumar o Solar, enquanto os demais se divertiam. Para que não houvesse favorecimento para um ou para outro, onde o rodízio fosse justo, foi feito um sorteio para a montagem da escala de serviço. O Miguel foi sorteado para trabalhar na cozinha em um sábado, justamente no dia que ele tinha por hábito sair cedo na direção do Hotel Farol sentar no mirante do bar do hotel, com a Ilha do Amor ao fundo, tomar uma cerveja bem gelada na companhia da amada e só retornar depois do por do sol. Ficou meio chateado, porém aceitou resignado, achando que daria um jeito quando chegasse o maldito sábado. Os dias se passaram e o Miguel obviamente que comentou com a namorada que teria que trabalhar no sábado. Ela pisou nas tamancas, ficou fula da vida e disse que o Miguel tinha que se safar dessa obrigação. O homem nos dias que antecederam o sábado tentou cooptar os amigos para revezarem com ele, ofereceu até dinheiro para quem assumisse suas obrigações, porém não logrou êxito em nenhuma dessas tentativas. O jeito era encarar os afazeres. Chegou o sábado, o Miguel acordou cedo para os padrões de quem está de férias, tipo 7 horas, preparou o café da moçada, e pouco depois das 9 horas, seguiu para o mercado para comprar o almoço. Retornou tipo 10 horas quando os amigos estavam partindo para as praias badaladas da ilha. Todos zoaram da cara do Miguel, e ainda exigiram que ele deveria se esmerar na cozinha, preparando um bom quitute, já que todos voltariam famintos. No meio da tarde a turma chegou, a mesa estava arrumada aguardando-os, faltava tão somente servir a refeição, que seria esquentada. Todos aguardando ansiosos surge o Miguel com uma travessa grande de um delicioso camusquim (camarão com macarrão), com molho branco e bastante queijo ralado em cima. Foi uma surpresa e tanto, pois quase todo santo dia era picadinho, farofa e ovo. A galera vibrava, se empanturrava de camusquim, quando observaram que o prato do Miguel foi feito a parte, e que não tinha queijo ralado em cima.
Um dos amigos achando aquilo estranho, indaga o Miguel: - Rapaz, por que não te serviste junto com a gente, foste pegar teu prato lá na cozinha?
O Miguel sorriu, e o amigo ainda zoou: - Ei moçada, o Miguel incorporou de vez a tarefa de doméstica, está comendo em separado e ainda por cima sem queijo ralado.
Diz o Miguel: - Que queijo ralado é esse?
- Esse que colocaste sobre o camusquim.
- Isso não é queijo ralado, é anaseptil em pó.
Putz, era mais quem corria na direção do banheiro.
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