Uma
dúvida sobre os dois milhões de romeiros (Nélio Palheta).
Não
há como contestar os dois milhões de pessoas do Círio, mas é preciso que a
imprensa use uma das premissas indispensáveis ao bom jornalismo: o
contraditório. Afinal, dois milhões de pessoas é um universo maior que a população
da capital e quase todos os habitantes da Região Metropolitana.
A
ser verdadeiro o número, implicaria o Círio arrebatar não só toda a população
de Belém e mais a de Ananindeua, mas quase a totalidade dos demais municípios
vizinhos. Que o Círio não congregue somente os romeiros de Belém e adjacências,
mas perguntemos: quantos deles chegam de avião, ônibus, carro, a pé e de barco?
Passada a euforia, esquecemos que esses
números carecem de mínima checagem para se confirmar o que se anunciou como
previsão.
Não
se trata de desqualificar o Círio como maior evento religioso do Brasil - quiçá do mundo - mas seria prudente dar mais veracidade a sua
dimensão colossal. A empolgação das projeções, às vésperas da festa, deixa no ar a inconsistência dos “números do
Círio”.
Olhando
do alto, vendo as fotos, estando na corda, é fácil estimar um número monumental,
tão grandioso é o cortejo. O Círio enche-nos de emoção, impregna nosso coração de
religiosidade, inspira sentimentos fraternos, é verdade, Porém, a matemática e sua irmã estatística são ciências exatas e podem
levar a erros se também forem recheadas
de sentimento religioso.
Cada
vez mais consciente da minha fé, essas considerações parecem absurdas. Reitero,
entretanto, que a intenção é chamar atenção para a necessidade de se medir
cientificamente o número de romeiros do Círio e demais eventos da festividade,
visando confirmar a festa religiosa paraense
como a maior do mundo, efetivamente. Seria bom para a diretoria da Festa
e para o próprio Dieese.
É
inegável a expertise do órgão sindical em levantamentos e análises de indicadores
econômicos, mas a comunidade católica (e não católica) tem o direito de
conhecer os métodos utilizados no cálculo da multidão de devotos. Há de haver
fórmulas, equações, matrizes, padrões matemáticos e estatísticos consagrados
para esses cálculos além de simples extrapolações. Não seria plausível calcular
quantas pessoas cabem por metro quadrado no percurso entre a Sé e a Basílica? Nas
sacadas dos prédios do trajeto cabem quantos romeiros espectadores? Seria desejável
estabelecer uma área padrão em cada esquina, algo como 50 metros adentrando
cada transversal do cortejo para, assim, ser calculado o número de pessoas que assistem
o Círio alojados em cerca de meia centena de esquinas; a esses romeiros
somem-se os das arquibancadas da Praça da República, dos camarotes de empresas
e órgãos públicos e os das janelas residenciais. Eis uma boa tarefa para acadêmicos
de estatística, matemática, engenharia. É bom que se faça isso antes que os números do Círio, agora uma pauta certa do
noticiário que antecede o grande dia, sejam irreversíveis, mesmo sendo
originados por método que se desconhece.
Se
o Dieese não divulga-lo, esses números continuarão
saindo de uma conta inevitavelmente marcada pela empolgação que o Círio
pressupõe. E pela dúvida.
Metendo o bedelho em uma área não afeita aos meus conhecimentos, posso assegurar que, assim me disse um espírita famoso, paraense, no dia do Círio há uma invasão de seres extra-terrestres. Dai o motivo de vermos tanta gente feia e cabeçuda no roteiro da procissão. Se é verdade, só o meu amigo poderá confirmar. Isso explicaria o número enorme de acompanhantes. O Nélio Palheta contou as pessoas com apoio do Lealzinho?
ResponderExcluirAté onde sei o Lealzinho é um índio poeta, que não gosto muito de números e nem de índios curumins.
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