Músicas, Seriedades, Burridades e Coisas Ogonorantes.

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quarta-feira, 30 de abril de 2014

A escrita do poeta Aldir.

Meu primo Naldo me mandou um texto delicioso do grande poeta, letrista e músico Aldir Blanc, que vez por outra escreve para o jornal O Globo. 

Aldir Blanc

Vovó e o revide. Pois não é que roubaram o Vasco de novo?!?

Oi, Vó Noemia. Sinto uma saudade que me enlouqueceria não fossem as filhas, netos e até bisneto. O Ceceu, seu genro, apesar de ter sido desenganado umas 20 vezes pela mistura de cigarros com asma, jogatina e birita, está vivo, com 91 anos e tomando cervejinha. A senhora fez muito por mim e não pude agradecer. Eu corria pela Muda até a Rua Uruguai para lhe aplicar, sei lá, centenas de injeções, sempre com medo de não chegar a tempo. Na única vez em que lhe internaram, estava me vestindo, sabendo que ia ser a despedida, quando tia Cicinha telefonou. A senhora havia morrido. Isso me persegue até hoje. Quero agradecer também porque a senhora era de Cascadura. Se fosse de Shrophshire, feito a avó do escritor Julian Barnes, meus dentes de cima voariam ao pronunciar isso. Valeu!
A senhora não trazia desaforo para casa: era a primeira a xingar e distribuir suas famosas vassouradas (nada a ver com Jânio). Lembro que a senhora vestia seu melhor “costume”, um conjunto de saia e paletó azuis com debrum mais claro na gola, calçava sapato alto de furo pro dedão e botava um chapeuzinho com véu para ir bater em cunhados agressivos. Entrava no táxi do desesperado seu Joaquim de vassoura em punho.
Foi com a senhora que aprendi a revidar, a não permitir que empurrem os meus para dentro de guetos políticos, raciais, socioeconômicos, e até esportivos.
Pois não é que roubaram o Vasco de novo?!? Desta vez, os larárbitros “não viram” — o soprador de apito, o bandeirola e o palhaço defecando na linha de fundo — o impedimento gritante. Vó, isso é cegueira coletiva ou formação de quadrilha? O mais grave é que, antes do jogo, a mulher do firififi cantou a pedra...
Uns idiotas, essa quadrilha que o Saldanha denunciava como “imprensa rubro-negra”, também antes da partida, bolaram uma manchetosca, num jornalzinho desses que a turma leva pra necessidades no banheiro da Central, “Pintou o vice”. Explique a esses iletrados que vice é o segundo em uma competição. Já desclassificado em casa, diante de 55 mil trouxas no Maracoxinha (sacada do jornalista Mauro Cezar Pereira), constitui um tremendo vexame. Desclassificado é vigésimo, lanterna, por aí. Dois atletas se destacaram na roubalheira: Guiñazú, que escondeu uma fratura no pé para jogar, e o goleiro deles, autor da pérola de lama “roubado é mais gostoso”. Se continuar assim, vai pegar uma jaula ao lado do colega Bruno, sequestrador, assassino hediondo e ocultador de cadáver. Incentivar o roubo é incitação ao crime. Mas é bom pro nosso futebol tão avacalhado ressaltar a diferença entre um atleta que se sacrifica pelo clube, enquanto outro fala feito um cafajestezinho de quinta categoria, né? Ah, ia esquecendo! Cartolas são quase sempre desprezíveis, mas faz tempo não vejo um badareca tão panaca feito esse presidente do Leónfla. Nem mala o bicão é, só mochilinha sem alça.
Pelo andar da carruagem, noite dessas tô aparecendo pra matar a saudade, no maior astral, garrafa em punho. Faz ensopadinho de agrião. Beijo.

P.S. do blogueiro: Ei José Mariano Beltrame liga pro Ministro da Justiça pede apoio das forças federais e instala uma UPP na Gávea.

4 comentários:

  1. Assim fica difícil torcer pelo Grande Flamengo. O time não pode ganhar sem ser escorraçado. O erro do juiz é consequência da fragilidade humana, dos "egos inflados", como falou há pouco o nosso grande Paulo Andrade. Perdoar deveria ser uma condição inerente e persistente aos seres humanos. O Vasco, sendo vice, deve se comportar com altivez. Deixem o Flamengo em paz.

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    1. Por essa jamais esperava, o homem também é flamengo. Se não for é pastor, vai perdoar roubo assim no inferno.

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  2. Quanto mais o tempo corre mais me assustam as incompreensões humanas. Se estamos na terra, como seres carnais, é porque já tivemos outras vidas. Mas continuamos meros passageiros no rumo de novas origens. Em cada perdão concedido, ganhamos um passe para termos descanso nas próximas encarnações. Eu não sou flamengo, apenas comungo com a felicidade desses seres de outros planetas reencarnados nas gáveas cariocas. Ainda é tempo de pensares, repensares, o teu destino como habitante deste minúsculo espaço universal. Ainda nos encontraremos em Marte. Tu, como um belo cão, e eu como teu domador. A vida é assim. Sempre reencarnaremos.

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