Meu pai era professor nato, aliás, Prof. Renato. Trabalhava duro ensinando matemática para muita gente, ganhava o suficiente para vivermos condignamente. Meu pai apesar de viver lidando com gente e números tinha uma aversão danada a tudo que envolvesse dinheiro. Odiava um banco, e pelo que sei, deve ter ido aos bancos, se foi, uma única vez, para abrir a conta e assinar a papelada, pois a movimentação quem fazia era minha mãe. Odiava também tratar com pessoas que viessem em casa fazer algum serviço de manutenção e reparo, pois na hora do pagamento o homem tinha um tro-lo-ló. Em síntese tinha aversão a dinheiro (noutra oportunidade conto um fato que corrobora o que digo).
Tínhamos em casa na sacada do andar superior duas cadeiras de ferro, daquelas que podíamos embalar para frente e para trás. Essas cadeiras eram revestidas com aquele plástico em forma de tubinhos, que eram trançados na estrutura de ferro da cadeira.
Meu pai e minha mãe quase que diariamente, no início da noite, sentavam nessas cadeiras e namoravam até por volta das 20 horas, quando começavam os programas nobres da TV. Essas cadeiras eram, portanto, importantíssimas para a vida dos dois.
Um belo dia uma delas quebrou, ficou pensa, não mais balançava e não permitia que se sentasse direito. Não restou outra alternativa a não ser a de consertá-la. Prontamente minha mãe providenciou um autônomo para fazer o serviço. Contato feito, a visita do autônomo ficou marcada para um sábado. Mas logo num sábado, onde meu pai estava em casa e sagradamente escutava sua música com cervejinha. Não teve jeito, o homem devia ser super ocupado e só podia ser no sábado.
Pois bem, chega o maldito sábado, e não é que minha mãe resolve sair para fazer compras ou visitar parentes. Deixou uma quantia em dinheiro para pagamento do conserto e repassou a meu pai. O homem ficou suando frio, não sabia o que fazer. Tentou persuadir a mamãe ficar em casa, mas não teve jeito. A solução foi me acordar. Foi no meu quarto e de forma muito discreta chamava baixinho:
- Renatinho, Renatinho, acorda meu filho, preciso de tua ajuda.
Naquela ocasião eu estava com 16 anos e já fazia minhas farras, e a ressaca havia se instalado no meu corpo que não havia jeito de acordar. E meu pai insistindo, porém sempre de forma discreta, sequer tocava no meu corpo, só fazia chamar ao longe.
Nessa batalha para me acordar chega o homem do conserto. Meu pai entra em pânico, e não teve jeito, me deu um cutucão e disse.
- Renatinho tua mãe pediu que resolvesses essa história do conserto da cadeira.
Acordei meio zonzo e disse que ia ao banheiro, escovar dente, fazer necessidades, tomar banho, algo que duraria pelo menos uma meia hora.
Nisso meu pai já mais calmo, pois eu estava acordado, teve os nervos no lugar para levar o homem até a sacada onde estava a cadeira.
Depois de resolver minha vida no banheiro, vou até o local me deparo com a seguinte cena.
O autônomo explicava para meu pai o problema ocorrido com a cadeira, e dizia em seguida o que deveria ser feito para consertá-la.
Aí meu pai depois de ouvir atentamente o homem, perguntou.
- E quanto custa esse serviço?
O homem respondeu.
- Custa 500 cruzeiros. (hoje algo tipo R$ 200,00).
Meu velho ficou espantado com o preço, pois muito provavelmente uma cadeira nova daquelas custasse uns 700 cruzeiros na época. Diante da situação indagou.
- Por que esse preço tão caro?
- Ora meu senhor, o que quebrou aqui nessa cadeira foi esse parafuso máster do lado direito, sem esse parafuso máster a cadeira não balança, fica pensa, fica imprestável. E esse parafuso máster é caríssimo, e só vende na Portuense.
Meu pai me olhou, pensou e disse pro homem.
- Meu amigo vamos fazer outro negócio. Não precisa mais o senhor consertar essa cadeira. O senhor tira o parafuso máster do lado esquerdo, retira os dois parafusos máster da outra cadeira que está boa, e eu lhe vendo os 3 parafusos máster que são caríssimos pela bagatela de 400 cruzeiros cada.
O homem não chegou a fazer o serviço, saiu de casa como entrou, e eu fiquei convicto que meu pai se quisesse seria o melhor negociador do mundo nessa história que envolve dinheiro.
gostaria de saber onde encontro desta cadeira pra colocar em minha sala para parar de comprar sofás que não valem nada
ResponderExcluirpor favor vc poderia me dizer onde encontro destas cadeiras,pois não sei o nome já procurei muito na internet,e não consigo achar,pois gostaria de ter umas cinco em minha sala e deixar de comprar sofás que não valem nada.desde ja eu lhe agradeço.
ResponderExcluirRapaz esse tipo de pergunta não combina com o blog.
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