Músicas, Seriedades, Burridades e Coisas Ogonorantes.

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domingo, 12 de dezembro de 2010

Fui culpado.

Eu já falei para vocês de meu amigo Nakamaru, o japonesinho que andava comigo pra cima e pra baixo. só que o homem era natural de Tomé-açu nissei dos puros. Sempre foi um amigão, cheio de virtudes. O único defeito que tinha era ter estudado na escola nipônica de Tomé-açu.  Com a preocupação de também ensinar a cultura japonesa, paralelamente com a cultura nacional, não ensinavam uma coisa e nem outra.
O japonês para escrever era uma lástima. Leu a vida toda aquela cartilha de: vovó viu a uva, e não saia disso. Seus textos eram frases curtas, de uma complexidade impar, tipo: eu vou ontem e  nem fui.  
Pois bem, meu amigo Nakamaru me confidencia que estava namorando, era uma moça nissei também lá de Tomé-açu. Mostrou-me primeiro uma foto da moça, que de fato era 10 vezes mais bonita que o Nakamaru, e merecia qualquer investimento de meu amigo.
Também me mostrou cerca de 4 a 5 cartas que a namorada mandou pra ele. Deu para notar que ela não fez o mesmo colégio de meu amigo. Os pais tiveram preocupação em mandá-la estudar em Belém, e não se limitou em ver a uva com a vovó.
Tinha uma caligrafia bonita, sabia ordenar seus pensamentos e escrevia coisas bonitas para meu amigo.
O Nakamaru agoniado, sabendo que devia responder a altura para a moça, resolveu me procurar. Falou-me abertamente de suas deficiências ortográficas e me pediu que eu fizesse uma carta em nome dele respondendo as 4 ou 5 que ela enviara.
Achei que não devia fazer, e pensei em ajudá-lo de outra maneira, que fosse inclusive útil pra ele. Sugeri que ele comprasse um livro de poesias do Vinicius de Moraes, um expert em mulher e amor. Lê-se e tirasse dali a inspiração para sua musa.
O japonês comprou o livro, e não seguiu a risca meu conselho. Procurou outro conhecido, também uma porta em matéria de escrita, e juntos extraíram do livro do Vinicius uma poesia, copiaram ipsi literis e mandaram como resposta do japrega para a amada.
Passado uns 5 dias, encontro o japrega.
- E ai, cabisbaixo, o que houve?
Ele me olhou e disse:
- Ela acabou comigo, teu conselho não deu certo.
- Mas por quê?
- Acho que ela não gosta de poesia.
- Cadê a carta?
- Qual?
- A que mandaste pra ela.
- Não tenho cópia, eu mandei pra ela.
- E qual foi a poesia do Vinícius que tu escolheste para te inspirar na carta?
Ele puxou o livro da pasta e me mostrou.
Minha vontade foi esmurrar o japrega. E ele ainda me disse:
- Foi o fulano que me ajudou.
Peguei o japiraca pelo ombro e saímos para tomar uma. Sobre a mesa ficou a antologia poética do Vinicius, com a página fatídica exposta.

“que me desculpem as feias, mas beleza é fundamental...” 

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