Músicas, Seriedades, Burridades e Coisas Ogonorantes.

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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Raimundo Pintor e o Walbert.

Pelos idos de 1983 eu era gerente do BTM (Bureau Técnico de Microfilmagem), empresa do qual eram sócios o Walbert Monteiro e meu primo o Paulo Góes. O BTM funcionava num daqueles sobrados que ficam na Quintino Bocaiúva, entre a Nazaré e a Governado José Malcher, era a casa do meio. A casa vizinha da direita era, ou ainda é, a casa da estudante universitária da UFPa. A economia brasileira como de praxe experimentava crises e mais crises, e nós não podíamos ficar imunes a situação. O mercado de microfilmagem já dava os primeiros sinais de declínio.
O BTM alugava o imóvel há mais de 5 anos de uma congregação de freiras que tacavam o sarrafo no reajuste anual. Na ocasião o Walbert, sócio majoritário da empresa, resolveu enxugar despesas, e uma das decisões tomadas foi a de mudar de endereço, para um espaço menor e mais em conta. Chegou comigo e decretou:
- Renato vou deixar uma verba contigo para mandares pintar a casa e consertares as goteiras do telhado, para que possamos entregá-la ao proprietário.
Não é necessário dizer que a grana deixada pelo Walbert era curta demais para pintar um casarão daqueles, e ainda por cima consertar o telhado, todo de telhas francesas caríssimas a época; mas a ordem era apertar os cintos.
Pensei em resolver a situação comprando cal e mandando tacar a broxa na casa toda, economizando na pintura poderia comprar as telhas necessárias para o reparo. Todavia a arquitetura da casa tinha uns detalhes em cores diferentes, e passar cal não resolveria, poderia gerar um problema mais tarde com o proprietário. Estava numa sinuca de bico.
Vivendo aquele dilema eis que surge uma visita inesperada, o Raimundo Pintor, um funcionário do IDESP (órgão para o qual eu tinha trabalhado entre os anos de 1978 e 82, e retornei depois em 1985). O Raimundo Pintor sabia de tudo um pouco, resolvia qualquer problema, desde conserto de fusca, eletrodomésticos, passando por encanação, demolição e a pintura, que adjetivava seu nome. Era um verdadeiro canivete suíço.
- Raimundo parece que foi Deus quem te mandou aqui, eu estou com um problema danado para resolver e preciso de teus préstimos.
Expliquei toda a carga de trabalho que precisava que fosse feita no imóvel e antes que ele me dissesse o preço do serviço, fui logo finalizando.
- E para fazer isso tudo só tenho CR$ 3.000,00, queres ou não queres pegar?
O Raimundo ainda tentou ponderar, dizendo que não era mágico e nem milagreiro, alfinetou o “mão-aberta” do Walbert, mas no final acabou aceitando.
Pegou a grana e num final de semana desses prolongados, com feriado pelo meio, executou o serviço. Usou 2 a 3 cores de tintas da pior qualidade e pintou a casa em todos os seus detalhes. A goteirada também foi resolvida.
Passados cerca de 2 semanas o BTM ganha uma licitação grande e por conta disso o Walbert resolve prorrogar o contrato do imóvel por mais um ano.
Alguns dias depois eu estou na janela do BTM e o Raimundo Pintor vem passando pela rua, ao ver-me indaga meio espantado:
- Vocês ainda estão na casa!
- O Walbert resolveu prorrogar o contrato por mais um ano.
- Caceta, um ano, até lá vai vazar tudo.
- Como assim?
- Porra, com a grana curta que me deste, foi mais barato comprar umas 500 latas para colocar no forro embaixo de cada buraco das goteiras, e com o período das chuvas vindo aí, as latas vão encher e vazar.
De fato, quando as chuvas chegaram foi uma goteirada danada, e nessa enxurrada foi até a tinta que pintava a fachada da casa. Infelizmente naquele tempo ainda não havia o PROCON para se reclamar, pois minha intenção era denunciar tanto o Raimundo Pintor e o Walbert como perdulários.

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