Para início de conversa eu não tenho carro, ando geralmente de taxi e procuro fugir dos horários do rush, mas às vezes é inevitável e tenho que enfrentar o trânsito cada vez mais caótico de Belém. O pior é que não vejo por parte do poder público, especialmente o municipal, nem uma ação concreta e continuada de planejamento urbano, já que não se pode pensar essencialmente em trânsito sem considerar a cidade no seu conjunto. Há ações pontuais que em vez de estimular o transporte coletivo e outros modais, acabam perpetuando o transporte rodoviário particular. São viadutos, rotatórias, aberturas ou alargamentos de vias que consolidam o rodoviárismo, deixando de lado outros modais bastante difundidos mundo afora. Não consigo entender a razão de se permitir estacionar veículos em qualquer via de Belém, principalmente aquelas da área antiga da cidade, que são estreitas, como as do Reduto. Com as laterais desobstruídas poder-se-ia estimular o uso da bicicleta a partir da implantação de ciclovias, mas nada disso é feito. Outro instrumento que também não é usado para esse fim é o IPTU, que pode ser progressivo para empresas (colégios, por exemplo) situadas no centro da cidade que não tomam medidas para descongestionar o trânsito. Um exemplo concreto nesse sentido é a briga eterna da Escola Peteleco com a Tv. Rui Barbosa. A empresa, já há algum tempo, teve a licença da Prefeitura para reformar e ampliar suas instalações, quando na verdade deveria ter sido obrigada a incluir em seu projeto, recuo ou área para embarque e desembarque de alunos e pessoas, sem dificultar o fluxo da via. Com o IPTU progressivo poder-se-ia corrigir essas omissões.
Em Coritiba, é proibido a entrada de veículos particulares no centro histórico e comercial da cidade, isso estimula o transporte público e outros alternativos como a bicicleta, já em Belém a história é inversa. Além de permitir o acesso de veículos particulares na área comercial e central da cidade, é possível estacionar em vias projetadas quando da fundação da cidade. Para agravar ainda mais o problema, muito provavelmente 90% da frota metropolitana de ônibus (incluindo aí Ananindeua, Marituba e Benevides) tem no seu itinerário o centro da cidade, ou seja, é como colocar um elefante dentro de um ovo. Diante desse caos, o Sr. Duciomar me inventa um projeto de R$ 430 milhões o BRT (ônibus com trânsito rápido), sem ter discutido e demonstrado à sociedade seus benefícios. Desde que me entendo como gente ouço falar que Belém em relação as demais metrópoles brasileiras tem uma solução natural para o transporte público: os rios. Somos uma península, onde é possível ir e vir de barco desde o Mosqueiro até a Alça Viária (Marituba), contornando toda a área metropolitana.Representa sem qualquer dúvida a redução da frota de veículos rodoviários, a redução dos custos públicos de manutenção de vias (asfalto, pavimentação, sinalização, etc.), a redução dos custos operacionais com pneus e outros acessórios automotivos, além de ganhos ambientais expressivos e a solução para parte dos problemas de trânsito da cidade. Já pensou se tivéssemos bus river com capacidade para 300 passageiros (o equivalente a 6 ônibus convencionais), com conforto e outros serviços a bordo (lanchonete, televisão, etc.), percorrendo a cidade de ponta a ponta, de Icoaraci a UFPa., de Mosqueiro ao Ver-o-Peso.
Seria prazeroso e estimulante viajar dessa maneira. Por que não pensar, em vez de gastar R$ 430 milhões com o BRT, em construir terminais de integração em vários pontos da orla da cidade, onde o bus river atracaria no destino ou distribuiria os passageiros em ônibus circulares, que fariam os deslocamentos dentro de bairros/zonas.
Para encurtar essa discussão, pode ser que tudo isso seja inviável tecnicamente, contudo até aonde sei, ninguém respondeu essa questão que é crucial para Belém.
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