Antes
quero enfatizar que este blog não recebe um tostão de pessoa física e/ou
jurídica, quer seja pública e/ou privada, não tem também procuração para falar
em nome de qualquer pessoa e não tem o propósito de fazer apologia a quem quer que seja,
mas quando há injustiças pelo caminho, costumamos meter o bedelho.
Tenho
acompanhado o movimento reivindicatório dos artistas locais, que elegeu o Paulo
Chaves como o principal responsável pelas mazelas culturais do Estado. É tanta
queixa contra o Paulo, que parece que antes dele nada existiu ou que tudo que se
fez antes dele foi um mar de rosas. Não tenho a pretensão de criticar o
movimento no seu todo, que acho legitimo até. Minhas observações se centram nas
críticas pontuais que se tem imputadas ao Paulo. Também não pretendo entrar na seara de
discutir a personalidade do Paulo.
1)
Festival de Ópera – Entendo o propósito do Paulo de institucionalizar esse tipo
de evento na cultura local. A proposta pode até parecer absurda, mas não é. Não
se pode elevar o nível cultural de nossa gente mascando jambu ou cantando “oi trepa no coqueiro tira coco...”.
Essas manifestações da cultura popular estão aqui há séculos e continuamos os
mesmos. A ópera requer aprimoramento,
qualificação e estudo em várias vertentes das artes (musica, teatro, dança,
etc. - O nosso Teatro da Paz fica muito
mais bonito encenando uma ópera). Tem também a virtude de revelar aos
ignorantes auditivos a música mais elaborada, mais bonita, aquilo que de fato
podemos qualificar como música. Para a montagem das óperas apresentadas, ano a
ano, há um aumento gradual na participação de artistas locais, que aprimoram
seus conhecimentos, que se qualificam e quem sabe um dia, possam por si só produzir.
Esse processo já aconteceu, por exemplo,
na Fundação Carlos Gomes, quando a Glória Caputo trouxe músicos internacionais,
ganhando mais que os nossos, para ensinar os nossos a tocar: clássicos, jazz e
outros gêneros de musicais mais apurados, de qualidade, de bom gosto. Hoje
temos uma Orquestra e tanta gente brilhante.
2)
Obras Caras – Acusam o Paulo de usar em suas obras materiais caros, como os
tais vidros do Hangar, que foram produzidos na Bélgica. Com toda certeza as
obras do Paulo são caríssimas se comparadas a outras feitas por gestores
públicos, tipo Aldeia Cabana, Praça Waldemar Henrique, etc. Mas com toda
certeza exigem um custo de manutenção infinitamente menor. Também esquecem de
computar nos gastos “absurdos”, os ganhos: econômico, social e cultural que tais
obras (do Paulo) trouxeram para a cidade. Basta perguntar para qualquer
motorista de taxi que trafega com turistas em Belém: o que ele costuma mostrar
para esses visitantes? ou questionar os turistas: o que eles gostaram de ver na
cidade? Como diz o Camilo, “somos pobres
e bregas”. Bem que podíamos colocar no local dos vidros belgas aquelas esteiras
de palha que vendem no Ver-o-peso.
3)
Muro do Forte do Castelo – Outro despropósito. O Forte do Castelo quando
abrigou o restaurante do Círculo Militar e um Salão de festas, com toldos e
outros elementos horrorosos que descaracterizavam o local, ninguém tascou o
malho, era uma beleza. Foi só restaurar o patrimônio histórico que as críticas
chegaram. O muro impedia que nós
tivéssemos a visão de dentro da cidade. Não há quem não diga que ficou mais
bonito, integrado a vida da cidade.
Imagina se a condição histórica do muro de Berlim fosse um fator impeditivo
para a sua retirada. “Junto
à minha rua havia um bosque. Que um muro alto proibia...”
4)
Santo Alexandre – Acho que foi o meu querido amigo Lúcio Flávio Pinto que
criticou o Paulo nesse aspecto quando disse em um jornal que a função do templo
foi desvirtuada. E foi. Hoje é um museu de arte sacra, e vez por outra realiza,
como realizava quando igreja, um casamento no local. Certamente realiza esse
tipo de cerimônia para ajudar na manutenção do museu. Se tivéssemos o hábito de
frequentar museus e pagar um ingresso para tal, esses casamentos com toda
certeza seriam dispensáveis. Não entendo o motivo pelo qual não se criticou, pelas mesmas razões, o
governo passado que transformou o Hangar
Centro de Convenções em uma casa de recepção social, competindo palmo a palmo
com a iniciativa privada, como se uma das atribuições do estado fosse essa. Fez:
casamentos, 15 anos, colação, todo tipo de evento da socialite (Infelizmente
alguns desses eventos sociais ainda são feitos por lá, o que no meu entender
não deveriam). O que é mais grave, a preços menores do que se cobrava para
fazer um seminário bancado pelo próprio Estado. Para quem não lembra o Hangar
tinha até revista impressa (Latitude), com páginas dedicadas a desfiles de moda
e outras aberrações, pagas pelos cofres públicos.
5)
Teatro São Cristovão – Para quem não sabe o Teatro São Cristovão é um
patrimônio privado pertencente a uma associação de classe. Atravessou vários
governos se deteriorando, sem receber manutenção alguma, e a condição que se
encontra hoje passou a ser culpa de quem? Do Paulo. Qual a razão de não se
pensar em pleitear o resgate do teatro para a iniciativa privada. Quem sabe
essas mineradoras poderosas, que exploram nossas riquezas sem internalizar benefícios,
possam bancar a restauração do teatro. E se for feita, quem vai gerir, quem vai
bancar os custos de manutenção. Que tal
a classe artística assumir essa tarefa, como tem feito o pessoal da Fotoativa,
dentro de sua área de competência.
6)
Valorização dos artistas locais – Acredito que o Paulo nunca morreu de amores pelos artistas
locais, denota que prefere trabalhar em prol do patrimônio público, cujo
benefício é de todos e não de alguns. Essa questão da desvalorização do artista
local é histórica, não é algo inerente ao Paulo. (Embora ache que o Paulo não deva
se eximir dessa questão). Julgo até que seja essa uma das razões para termos
dentro da estrutura administrativa do estado cinco órgãos de cultura:
Secretaria de Cultura, Fundação Carlos Gomes, Fundação Curro Velho, Fundação
Tancredo Neves e Instituto de Artes do Pará. Descentralizando competências e
permitindo ao Paulo trabalhar naquilo que sabe fazer de melhor. Se não estou enganado, cabe a esses órgãos a
gestão da valorização da classe artística. Vale lembrar que alguns dos gestores
dessas instituições são artistas, são do meio e poderiam perfeitamente
trabalhar com o propósito de atender a todos. Não o fazem por que há facções
artísticas-partidárias, cada qual puxando a brasa para a sua sardinha. Os que
tinham DAS no governo passado, não tem nesse, e assim a roda se movimenta. Não
há união, é cobra engolindo cobra. A desvalorização está implícita na própria
classe, na cidade. Tanto o artista que vende como aquele que compra a arte são
responsáveis por esse aviltamento. Cansei de ver gente tocando a custa de
pizza. De ver gente vendendo desenhos, pinturas, fotos como se fossem artigos
de quinta categoria. Claro que fizeram isso e fazem para sobreviver. Mas quem
tem competência se estabelece, e aqueles que têm sabem desse submundo em que
vivemos, buscam novos ares, se fortalecem e vez por outra passam por aqui
valorizados. Valor se conquista, não se adquire por decreto.
Para
finalizar, acho uma burrice danada ficar fazendo esse jogo de acusações e
queixas pontuais, de eleger o Paulo como o Judas da cultura local. O certo
seria cobrar do estado, que é impessoal, uma política mais geral, que resulte nessa
justiça reclamada, porém, consequente (não se pode nivelar uma obra de Picasso com
um quadro feito por um artesão do interior do Pará) e capaz de trazer mudanças para
ambos os lados.
Muito feliz o teu comentário. Eu concordo, em parte, com o que dizes. O trabalho do Paulo Chaves é magnânimo. Não cabe é o despotismo que, aparentemente, grassa em quase todos os comandos governamentais. Despreza as críticas pontuais e toma só um exemplo: não há como educar ouvidos simplesmente com festivais. É preciso BASE e isso é uma reclamação do povo que queres calado. Tu dizes que o certo é "cobrar o Estado, que é impessoal". Mas, com certeza, este Estado tem representantes. E um deles, claro, por vias direcionadas, é o Sr. Paulo Chaves. Eu também não tenho procuração para defender pessoas mas, sou habitante de um espaço aonde não existe educação básica, tão necessária para entendermos óperas e assemelhados. E isso é culpa de pessoas que não viveram a realidade dos necessitados, só foram aos grotões para sugar, no sentido lato, o leite da caboclada. Seria melhor uma explicação pessoal do Paulo Chaves aos reclamantes, para sabermos de onde provém essa intolerância. Ao calar-se, o Secretário admite as injustiças impostas pela massa ignara e passa a ser judas de si próprio.
ResponderExcluirCamilo o festival não deixa de ser uma formação de base. São 12 anos (inclusive o PT que criticou tanto o manteve em seu governo), e de lá até hoje são mais de 1.000 pessoas daqui da terra que tiveram participação no festival, quer seja, na parte cênica, na montagem de cenários, iluminação, dança, música, etc. Se não lembras antes tiveram os concursos Bidu Sayão, de onde surgiram cantores clássicos daqui, e que hoje estarão na ópera que será encenada. Eu tive oportunidade de assistir a duas óperas, o Barbeiro e Sevilha e Carmen, em anos distintos. Em ambas apresentações havia gente de toda as raças, credos, opções sexuais e condição econômica. Isto é um processo, e na visão do Paulo, que compactuo, a ópera tem a peculiaridade de ser completa nesse campo da arte, pois como disse requer várias vertentes, como a música, o teatro, a dança, etc...
ExcluirDisse no meu texto que não sou contra o movimento, sou contra as críticas que se tem feito ao Paulo. Quanto ao fato dele não querer falar com os reclamantes, que chamas povo (eu não me incluo nesse meio e acho que mais da metade de Belém também), Para encurtar diria que esse pessoal devia primeiro aprender a fazer projeto para reivindicar seu quinhão nas verbas públicas destinadas a cultura. Eu mesmo já fiz projeto para muito gente pois sequer sabiam concatenar idéias, e ainda querem ter o mesmo tratamento de gente que é profissional, que sabe pleitear recursos, Tu lembras daquele episódio onde o Paulinho da Viola chiou por ter recebido em um evento no RJ menos que o Chico, que o Caetano. Foi burrice da parte dele. Não há como nivelar a arte, nem tampouco homogeneizar talentos. O Chico e o Caetano naquela ocasião, como hoje, sempre tiveram seus cachês superiores ao do Paulinho, sempre tiveram mais público, daí não ter o que discutir. Embora eu não goste, mas a Gaby Amaranto que é uma bosta se comparada ao Nego Nelson, hoje é bem mais valorizada que o Nego. Na minha visão é uma distorção, como deve ser na do Paulo Chaves, porém ela conquistou isso, enquanto o Nego e outros preferem esperar as benesses do poder público, que a valorização chegue por decreto. O Brasil está habituando seus filhos a dormirem em berço esplêndido, mamando nas tetas do poder público.
Concordo... em parte. Vamos beber, porque não somos povo e nem secretários.
ResponderExcluirMas que classe desunida!
ResponderExcluiracho que isto é culpa do PT.
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