Meu Pai era um craque para contar piada, especialmente essa estória, e ele tinha uma forma impar, colocava seus molhos e temperos e a piada crescia, fazia rir quem estivesse ouvindo do seu início ao fim. Como não tenho mais o velho por aqui, vou tentar descrever a piada, mas tenho quase que certeza que quando eu subir ele vai dizer: estavas de bota ou com febre?
Morávamos na Vila Hortência (Quintino com Gentil) quando essa estória ocorreu, e tínhamos um vizinho que residia na Gentil Bittencourt que tinha um senhor aparelho de som para a época. Algo feito pelos melhores engenheiros de som, o produto top do momento, o mais adequado para reproduzir músicas de primeira linha, especialmente óperas e clássicos.
Esse vizinho todo final de semana se dedicava exclusivamente para sua sala de som onde se deleitava ouvindo os concertos mais bonitos que o mundo já ouvira. Vez por outra convidava meu pai, que quando podia ia ouvir musica com o vizinho. Nada fazia nosso vizinho mudar de planos, final de semana era dedicado a música, em último plano vinha a esposa, filhos e quem quer que fosse. Além disso, os dias de música de nosso vizinho eram cercados de todas as precauções, por exemplo, ele oficiava para o Detran pedindo que carros de bombeiros e ambulâncias não trafegassem no quarteirão da gentil onde ele morava em dia de audições, era imperativo que o silêncio fosse preenchido exclusivamente com a musica reproduzida pelo seu caríssimo aparelho de som.
Pois bem, num belo sábado nosso vizinho se prepara para escutar as últimas novidades de clássicos lançados recentemente no mercado europeu, quando percebe um zumbido estranho na sala de som: zum-zum-zum-zum. Era uma mosca dessas grandes voando no ambiente da sala, logo aonde, com um ruído daqueles não haveria som que reproduzisse a perfeição desejada.
Indignado nosso vizinho liga para a Mesbla onde havia comprado o aparelho de som e pede que mande alguém para resolver o problema, pois havia pago uma fortuna e não admitia tal interferência.
Depois de aproximadamente 1 hora chega em frente a sua casa um caminhão baú da Mesbla daqueles enormes, com cerca de 20 carregadores, um técnico formado na Europa com 10 auxiliares.
O Técnico consulta nosso vizinho sobre o problema, constata que se trata de uma mosca e ordena que os carregadores desembarquem a solução do caminhão.
Os carregadores passam a descarregar cerca de 50 caixas enormes, a medida em que as caixas iam chegando na sala, o técnico e sua equipe começaram a montar uma máquina nunca antes vista, que foi ocupando mais da metade da sala, tiveram que inclusive jogar pela janela os discos novos, o toca disco e três das caixas de som, para permitir a instalação da máquina.
O nosso vizinho estava estático, não sabia o que fazer. Deixou que o trabalho prosseguisse. Depois de 3 horas, aquela parafernália enorme estava montada em sua sala. Aí o vizinho perguntou ao técnico: - E aí, vão resolver?
- Claro que sim. Veja bem, o senhor está vendo aquele pequeno buraco ali em cima, olhe bem, aquele orifício negro ali em cima?
- Sim estou vendo.
- Pois bem a mosca vai achar estranha essa máquina aqui na sala, vai começar a voar, e quando der de cara com o orifício vai querer entrar.
- Sim, e daí?!
- Ah! Meu senhor aí vai começar o inferno astral dessa indesejável. Preste atenção! Ela vai passar por aquele tubo verde, nele há sprays de areia do Saara que vão espirrar bem na direção dos olhos dela, deixando-o irritada, em seguida, passará pelo tubo laranja onde luvas de boxe darão jabs de direita e esquerda no fígado e baço da bichinha. Posteriormente ela pega uma corrente de ar fria e logo depois um jato de chaleira quente, entra no tubo lilás, onde existem fortes holofotes com conta gotas de água gelada que estão diretamente dirigidos aos olhos e têmpora da intrusa, de lá sairá cambaleando. Entra no tubo prateado onde bolas de naftalina com vick-vaporub serão atiradas por todo o corpo da maldita, depois ela entra no tubo vermelho que tem uma inclinação de 90 graus, o animal despenca daquela altura a uma velocidade estonteante e cai aqui nessa conchinha.
- Sim e daí, ela morreu?
- Não... você recolhe ela da conchinha põe na palma da mão e abana, abana, abana, até que ela se restabeleça dessas agressões todas e vá embora para nunca mais voltar.
Embasbacado ao ouvir aquela explicação toda, nosso vizinho se vira para o técnico em tom exaltado: - Porque ao tirá-la da conchinha e colocá-la na palma da mão não dou-lhe uma porrada pra ela morrer!
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