Músicas, Seriedades, Burridades e Coisas Ogonorantes.

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sexta-feira, 17 de junho de 2011

De Gatinhas e Galinha.

Nos anos 70 minha turma costumava passar o mês de julho no Mosqueiro, precisamente na praia do Ariramba, acampado as proximidades do extinto Matapi. As tendas onde ficávamos alojado não eram essas bonitinhas compradas na Mesbla, eram tendas tipo do Exército, que para montarmos precisávamos devastar a natureza para obter forquilhas fortes e vigas mestras mais fortes ainda. A turma sempre presente nessas viagens de férias eram: Rui Santa Helena, Maisena, Zé Arcângelo, os irmãos Marcos e Ivan, Bam e Banzito, também irmãos, Paulo Barrica, Rui Cabeça, Tonho e eu. O Tonho para ser sincero ficava tirando uma de rico, pois ficava no bem-bom da casa do Tio Hermano e só ia para o acampamento beber, embora participasse da coleta. Eu também para não passar bicheira, pois só havia verba para a maldita em detrimento da alimentação, resolvi forçado pela mamãe, naquele ano, ficar alojado na casa de meu primo Neto, que ficava no Farol. Pois bem, a rotina no acampamento era a seguinte: acordar cedo tipo 10 horas, preparar a batida da fruta que tivesse, acordar o povo, beber, beber, beber. Sair porre paquerando as gatinhas do Ariramba. Por volta das 15 horas voltávamos para o acampamento, para beber, beber, beber, sair novamente porre procurando as gatinhas. Lá pelas 20 horas regressávamos para o acampamento e bebíamos, bebíamos, bebíamos para sair porre procurando as gatinhas, e finalmente por volta das 2 da matina chegávamos exausto no acampamento, tomávamos e saideira e dormíamos amontoados porres no chão, fora da barraca, no meio do vomito, sobre o formigueiro, onde houvesse um cantinho de chão. Conclusão era uma vida filha da puta. Passada a primeira semana das férias, minha Tia Cleide, dona da casa onde eu estava alojado no Farol, estava passeando de carro com minhas primas pelas praias do Mosqueiro, e ao passar pelo Ariramba, e pelo acampamento constatou que só havia faminto, ante a musculatura cadavérica do pessoal. No dia seguinte preocupada com a fragilidade da turma me chamou e fez doação de uma galinha, da granja do Titio em Santa Izabel, para saciarmos nossa fome. Fiquei muito emocionado pelo gesto generoso da Titia, e agradeci muito, pois tinha certeza que a minha turma ia ficar bastante feliz. Peguei um ônibus, juntamente com galinha, e zarpei para o acampamento. Lá chegando foi uma festa danada, a galinha foi recepcionada como Chefe de Estado e o melhor cômodo da barraca foi reservado a ela. Julguei que esse tratamento fosse para desestressar a fogosa, que seria devorada logo, logo. Bom nesse dia a rotina foi a habitual, e haja rama e vômito. Voltei para o meu nicho no Farol, passei uns 5 dias sem pisar no acampamento, pois achei sóbrio uma gatinha no Farol. Com saudades da galera, no sexto dia ausente, peguei o ônibus e me mandei para o Ariramba. Durante a viagem fiquei imaginando a turma mais saudável, após saciar a fome com uma galinha assada ou cozida com batatas. Ainda dentro do ônibus, vi de longe uma cena que jamais vou esquecer em vida. A galinha estava viva e amarrada a uma mangueirinha que ficava dentro do acampamento. Achei aquilo estranho, e ao mesmo tempo me deixou chateado, pois a turma não havia matado a fome com o presente dado. Bom, cheguei no acampamento e fui recebido pelo Rui Santa Helena. Perguntei de cara a razão da galinha estar viva amarrada na árvore. Ele me respondeu dizendo que a galinha era tão bonitinha, e que eles com pena não mataram a ave. Percebi também que a galinha tinha uma coleirinha de crochê, toda transada, e me foi dito que a coleirinha foi delicadamente confeccionada pelas nossas vizinhas, as tais gatinhas que paquerávamos. Para minha surpresa foi me dito ainda, que durante a tarde a turma não mais bebia como de costume, pois sagradamente levavam a galinha para passear. Imagina um cidadão porre levando uma galinha pela coleirinha para passear no Ariramba. Quando ia reclamar da insanidade da turma, me foi mostrado uma sacolinha com um kit da galinha. Nele havia um óculos escuro feito especialmente para a galinha, uma toalhinha bordada com seu nome “galinha”, um bronzeador solar e duas pedras com suas iniciais “GA”. Minha reação foi perguntar “Que diabos é isso?”. Eles me explicaram que pela manhã quando saiam porres atrás das gatinhas, levavam a galinha para praia. Lá chegando pegavam a galinha já de óculos, deitavam na toalhinha, passavam bronzeador e colocavam uma pedra em cada asa, para galinha ficar de peito pra cima pegando sol. Quase desmaio, como iria explicar isso para a Titia. Para finalizar, e quase ao final das férias, fui convidado para o enterro da galinha que morreu de gogo, tadinha.

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