Para entender melhor essa história é necessário conhecer antes a história anterior, postada na última segunda-feira, dia 29 de março (O Sapato do Casca de pica). Meados dos anos 70, férias de julho em Mosqueiro, Solar dos Inocentes, na praia do Bispo, fundos da casa de meu Tio Hermano. Lá passavam as férias nesse episódio: eu, Tonho e Paulo Góes (meus primos), Otacílio (famoso Casca de pica) e o Zé Arcângelo, esse último apesar de nome de anjo, era, ou ainda é, motoqueiro e roqueiro, integrante da Banda Esmeril, o único homem da face da terra que tomava Pinho de Alfazema com gelo, e uns dos primeiros fãs de carteirinha dos Beatles. Até hoje o nome do Zé é soletrado diariamente pelo Edgar Augusto no seu programa de rádio a Feira do Som, no cantinho dedicado aos Beatles maníacos. O Zé para onde fosse sempre levava consigo sua famosa eletrola portátil, seus discos dos Beatles e o violão, era sua ferramenta de conquista. Com eles o Zé chegava em qualquer lugar que fosse, colocava um dos discos do Beatles para tocar, cantava todas as músicas dos 4 garotos de Liverpool, e mandava ver no violão. Para os padrões da época era algo irresistível, tática infalível para conquistar o coração de qualquer mulher. Irresistível e infalível era também a eletrola do Zé, era uma maletinha linda, se não me engano de cor vermelha, importada, made in USA, semelhante a da fotografia abaixo, e que tinha um som poderoso.
O Zé estava flertando com uma vizinha do Solar dos Inocentes, e toda noite pegava seus instrumentos de guerra e rumava para a casa da garota, como lá se concentravam muitas meninas, vez por outra acompanhávamos o Zé, levando uns dois litros de batida do Mário Maracujá. A par disso o Casca de pica que já estava namorando, andava bastante chateado com toda a turma, em razão da maldade que fizemos, pincelando merda no sapato dele. Falava conosco muito formalmente, e havia dito que não queria mais brincadeira, e que qualquer nova bandalheira de nossa parte, romperia relações e não falaria nunca mais com a gente. Temerosos com essa possibilidade, pois não gostaríamos de perder a amizade dele, deixamos o Casca de lado, e as brincadeiras passaram ser somente entre os demais. Passados alguns dias depois do episódio do sapato, o Zé nos convida para irmos até a casa da vizinha para um sarau noturno, era lua cheia, e lá estariam várias meninas que poderíamos tentar chegar perto. Nesse dia, chegamos da praia cedo, tipo 15 horas, almoçamos e demos uma dormida, para não irmos ao sarau com caras de bêbados amarrotados. Colocamos nossa melhor roupa de festa, jantamos e ficamos ansiosos até a chegada das 20 horas, horário combinado para o início da festança. Quando chegamos lá, havia umas 6 a 8 meninas, incluindo a nossa vizinha, objeto de desejo do Zé. Na casa havia um pátio grande na frente, onde sentamos ao chão, em círculo, para papear, cantar e ouvir músicas. O Zé pede que as meninas selecionem um dos discos dos Beatles para tocar, fizeram a escolha. O Zé pega sua maleta eletrola coloca no centro da roda, e quando abre o aparelho para colocar o disco, eis que surge no meio do prato um torete preto, enrolado, de 15 a 20 cm de comprimento, grosso, duro, de odor insuportável, fruto dos açaís com peixes fritos devorados diariamente pelo Casca de pica. Foi um grande alvoroço, e só sei dizer que o sarau acabou, não arrumamos menina alguma, o Zé não conseguiu seu intento e para o resto das férias ficamos conhecidos com os imundos da Vila. Bom, já o Casca de pica continuou namorando e se vingou, deixando a lição: Quem com merda fere com torete será ferido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário