Meu irmão caçula era o Emengardo, um sujeito gordinho, cheio de firulas, com tendência para goleiro e/ou artista de circo. O cara aprontava cada uma que minhas irmãs evitavam ao máximo passear com ele. Mas não tinha jeito, minha mãe só deixava minhas irmãs saírem se o gordo fosse. Elas tinham respectivamente 18, 14 e 13 anos, e ele 8 anos. Apesar de menor, era um pentelho e grudava nas meninas de tal sorte, que para minha mãe sinalizava segurança para prováveis galãs com intenções pecaminosas. Em suma, só saiam de casa se o Emengardo fosse, e ponto final.
As meninas namoravam ou já davam as paqueradas, e sabendo que o Emengardo era mico na certa, tentavam de todas as formas darem um baile no gordo. Qual nada, mamãe chamou e passou a norma: Sem ele nada feito.
Era um domingo e o foco do passeio era uma sessão de cinema no Cine Palácio, que ficava na Presidente Vargas esquina da Manoel Barata, no Edifício Palácio do Rádio. Hoje é um dos templos da Igreja Universal.
As meninas antes de saírem de casa pegaram o gordo e fizeram milhares de recomendações.
- Caceta se abrires a boca, não vai ter pipoca.
- Caso fales alguma besteira, vamos te deixar sozinho.
- Nem pensa em contar pra mamãe nossos namoros, pois nunca mais vais sair conosco.
- Qualquer arroto, peido ou porcaria que fizeres, vais ficar sem bombom.
Ainda por cima fizeram vários ensaios com o Emengardo de como se portar junto ao público, ser gentil, dizer boa tarde, em suma ser educado, um cidadão mais civilizado.
Como de praxe se arrumaram todinhas, colocando roupas da moda, cabelos escovados, maquiagens de manequins e todo tipo de artifício para ficarem nos trinques. Também pegaram o gordo, deram um banho de escovão, perfumaram o cara todinho e vestiram uma roupa engomadinha, o Emengardo ficou tipo aqueles filhinhos de mauricinhos vestidos de marinheiros.
Pegaram a grana e foram para o cinema. Chegavam pelo menos uma hora antes, para namorar. Mas nesse dia só foram paquerar, pois estavam sem namorado. Flertes e olhares diretos deixavam antever que após o filme, na lanchonete Acropole, haveria o tão ansioso encontro para formalização do namoro.
Entraram no cinema e ficaram próximos de uma das entradas dos banheiros, que no Palácio ficavam de um lado e de outro, no centro do cinema. Lembro bem que na entrada desses banheiros havia uma cortina grossa, se não me engano de veludo, na cor vermelho escuro. Pois bem, o filme começa e fica emocionante. Ninguém sequer dá um suspiro, era um silêncio mortal. Próximo ao final do filme meu irmão se vira para uma de minhas irmãs e pede:
- Quero fazer cocô.
- Sabia caceta, logo agora quase no final do filme. Te vira, não vou de jeito nenhum contigo. A porta fica logo ali.
O Emengardo se manda pro banheiro, e depois de 3 a 5 minutos as luzes do cinema começam a acender e os créditos finais do filme passando na tela. A platéia toda comovida, era um filme com final triste.
De repente minhas irmãs olham na direção do banheiro e se deparam com uma cena indescritível. Meu irmão caçula na porta do banheiro, assistindo atentamente o filme, com as calças arriadas até os pés e limpando a bunda nas cortinas de veludo do Palácio.
Putz, não preciso dizer mais nada...
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