Nesta semana o som do blog homenageia Johnny Alf na voz do Mário Adnet, com Céu e Mar. Para muita gente, inclusive pra mim, o Johnny Alf foi o precursor da bossa nova, e neste ano infelizmente perdemos essa lenda da música brasileira. O negão era um compositor jóia rara, com harmonias dissonantes que só ele sabia levar. Cantar Johnny Alf não é tarefa para iniciantes, há de se ter bastante estrada.
Conheci e aprendi a gostar de Johnny Alf com meu pai, que foi quem me ensinou o que é a boa música. Papai era um colecionador de discos, tinha cerca de 8.000 LP’s, 78 e 33 rotações. Clássicos, óperas, jazz, samba-canção e muita bossa-nova eram os gêneros que pautavam a sua discoteca. Sempre que podia comprava os discos lançados no mercado fonográfico.
Geralmente essas compras aconteciam no sábado pela manhã, pois em seguida reunia em casa meus primos: Reginaldo Cunha, Paulo César Condurú Fernandes e o Paulo Mazzini, (que hoje é um de meus amigos-irmãos), para ouvir músicas e tocar violão, regados a cervejas e um lauto almoço feito pela Eliete, nossa cozinheira de mão cheia. Começavam o sarau entre 10 e 11 horas, as vezes até mais cedo, e encerravam quando o sol já tinha se posto.
Pois bem, em um sábado meu pai e eu fomos ao comércio comprar discos. Essas compras eram feitas na Radiolux e na Y.Yamada, ambas situadas na Manoel Barata.
Na loja da Yamada havia o lançamento do disco anual do Roberto Carlos, que estava sendo vendido por CR$ 40 cruzeiros, provavelmente o disco mais caro da loja. A capa do disco do Roberto decorava praticamente todas as paredes da loja. O som também que tocava era só o rei da jovem guarda. Tudo dentro do figurino do marketing da época.
Na ponta da loja havia um tabuleiro fuleiro com vários discos em liquidação, eram cantores e músicos que escolheram a profissão errada e que estavam prestes a cometer suicídio pelo excesso de mau gosto, e no meio deles havia algumas pérolas. Dentre elas o disco do Johnny Alf “Eu e a Brisa”, pela bagatela de CR$ 1 cruzeiro.
Meu pai ao ver o disco do Johnny Alf jogado no meio daquele bando de imbecis, sendo vendido por quantia aviltante, chamou o gerente da loja e largou o malho. Disse que era para retirar o Johnny Alf do tabuleiro e vender o disco pelo preço de CR$ 50 cruzeiros, pois se o Roberto Carlos valia CR$ 40 cruzeiros, o Johnny Alf não podia ser vendido por menos. Cobrou essa posição do gerente usando sua prerrogativa de cliente da casa, e foi plenamente atendido. Ou seja, pagou CR$ 50 cruzeiros pelo disco do Johnny Alf. Meu pai ficou liso, porém extremamente satisfeito. Voltamos para casa e ouvimos o negão, confirmando a atitude de meu pai, de que coisa de boa qualidade tem que ser valorizada, em especial a música.
Nenhum comentário:
Postar um comentário