Músicas, Seriedades, Burridades e Coisas Ogonorantes.

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terça-feira, 29 de março de 2011

O sapato do Casca de pica.

Na minha adolescência, anos 70, quase todas as férias de meio do ano, passei no Mosqueiro, e geralmente ficava alojado no Solar dos Inocentes um barraco gostoso que ficava nos fundos da casa do Tio Hermano, na praia do Bispo (Vila). Naquelas férias os hóspedes do barraco (que recordo) eram: eu, Tonho e Paulo Góes meus primos, Zé Arcângelo e Otacílio, o famoso Casca de pica. Não me pergunte a razão do apelido que não sei, só sei que de fato o homem na época se parecia muito com uma casca de pica. A rotina diária durante os 30 dias do mês era sempre a mesma, durante o dia acordávamos por volta de 11 horas tomávamos o café generoso do Tio Hermano e rumávamos para o Farol encher a cara. Voltávamos a tardinha, tipo 16 horas, almoçávamos no Tio Hermano, e retornávamos aos serviços de encher a cara, parávamos para tomar um banho e jantar em torno das 18 horas, depois íamos a praça da Vila caboquear e encher a cara. No início da madrugada, bêbados e cambaleantes retornávamos ao Solar dos Inocentes para dormir e recomeçar tudo de novo no outro dia. Vale lembrar que o barraco do Tio Hermano não tinha energia elétrica nessas férias, usávamos um lampião a querosene. Rara era a noite que não havia uma baita bandalheira para cima do primeiro que dormisse. Era o tal do mosquito, era uma lasca de carvão (ou palito de fósforo queimado) que colocávamos na mão do dorminhoco, acendíamos até o bicho dar um pinote da rede. Havia também o mosquito na testa, ou seja, colocávamos a lasca de carvão na testa e um tamanco na mão do cara, quando o carvão começava a incomodar, queimar a testa era uma tamancada sem igual. Tinha também a minhoca de fogo, ou o equivalente a um fio amarrado no dedão do pé, que acendíamos a ponta, o efeito era perverso. Tinha todo o tipo de maldade, que geralmente acabavam em desforra no dia seguinte.   Pois bem, o Casca de pica começou a ter vantagens em relação ao grupo, pois arrumou uma namorada e sempre chegava tarde em casa depois que estávamos dormindo, e sempre era ele que aprontava pra cima da gente. Aí resolvemos aprontar pra cima dele. No dia D, chegamos mais cedo da praia, enquanto o Casca e sua amada se deliciavam nas ondas da praia do Farol. O Casca tinha um sapato de camurça marrom, último grito da moda, usado exclusivamente em seus namoros noturnos, quando o bicho ficava tipo um mauricinho: calça camisa, cinto, sapato e meia. Almoçamos e com a barriga tufada foi uma fila no banheiro, cada um contribuiu com 50 gramas de merda. Com a contribuição de cada um, e mais umas pitadas da merda do cachorro do Titio Hermano, fizemos uma mistura digna de reprovação em qualquer exame de fezes. Pegamos a mistura e pincelamos internamente o sapato do Casca, na ponta dos bicos, em um local difícil de ver e perceber. Colocamos o sapato no local e ficamos de vigília. O Casca chegou da praia próximo às 17 horas, chegou afobado, pois teria pouco tempo para comer, tomar um banho, vestir sua indumentária de namoro e sair para os esbrugas o quanto antes. Almoçou, tomou banho e se vestiu sem perceber o que havíamos feito, pois usou meias e a luz do candeeiro nos era favorável.
Antes das 7 da noite, lembro que estávamos na sala de jantar do Tio Hermano vendo TV, aguardando sair o jantar quando pinta o Casca de pica parecendo um pavão. Perguntamos se ia jantar, disse-nos que não, que iria namorar e que faria um lanche na Praça; e parte para seu namoro. Cerca de 1 hora depois, quando estávamos todos a mesa jantando, o Casca retorna todo acabrunhado, triste, vai rapidamente ao banheiro e depois de alguns minutos retorna para a sala onde estávamos, senta em uma cadeira de balanço que ficava afastada da mesa. Perguntamos o que havia acontecido, se a namorada havia acabado com ele. Ele respondeu: - Não ela não acabou comigo, é que resolvi deixá-la em casa e vir embora, pois onde andávamos havia um cheiro de merda insuportável nos perseguindo. Acho que ela deve ter pensado que eu estava passando mal, que havia me cagado, mas já fui ao banheiro e vi que não, porém o cheiro continua. Já lavei meu rosto, meu nariz. Vocês não estão sentindo um mau cheiro horrível, parece merda de cachorro com merda de bêbado?
A resposta veio em coro: - Claro que sim!
O homem se levantou e foi para o Solar mudar a roupa, na hora de tirar o sapato deve ter percebido tudo. Nós já havíamos partido para a farra, porém minha bicicleta foi lançada por sobre o muro para o quintal da casa de meu Tio José, e outras cagadas viriam mais adiante, que volto a contar em outra oportunidade. 

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