O Dr. Paulo César Condurú Fernandes se vivo fosse faria aniversário neste dia primeiro. Mas por uma fatalidade e erros médicos perdemos o Paulo. A presença do Paulo em minha vida foi marcada por dois momentos distintos, um quando ele esteve mais próximo de meu pai. Na época a casa onde o Paulo morou por muitos anos na Benjamin Constant, era uma espécie de reduto familiar de primos e tios, especialmente os de parte de meus avós paternos, que lá também moravam. Era uma casa alegre, que constantemente reunia todos os familiares para almoços e confraternizações.
No mesmo período o Paulo também freqüentou muito a casa de meus pais, especialmente em sábados e feriados para os saraus de música e violão. Participavam quase que obrigatoriamente dessas reuniões: papai, Paulo César, Reginaldo Cunha, Paulo Mazzini, e em determinadas ocasiões convidados especiais como: João Augusto, Galdino Penna, João Mercês, Everaldo Pinheiro e outros que não recordo. Eu era garoto, o Google dos Discos, bastava pedir tal disco, que eu corria até a estante onde ficavam os mesmos e pinçava o LP desejado. Sabia o local exato de cada um deles.
Depois que o papai faleceu, em 1974, não mantivemos mais a relação estreita que tínhamos. O Paulo foi cuidar de seus afazeres médicos e de sua família que se constituiu logo em seguida, e eu dos meus estudos e trabalhos.
Por aproximadamente 30 anos tivemos poucos contatos, e alguns deles motivados por crises de gargantas ou ouvidos, que eram cuidados e curados com o zelo que o Paulo sempre dispensou a todos. Não conheço ninguém que tenha conhecido o Paulo que não gostasse dele. Era uma pessoa de um coração boníssimo, era educadíssimo, adorava uma cervejinha, um torresminho, um leitão e de pessoas humoradas. Tinha um papo agradabilíssimo, e ter o convívio do Paulo era um prazer muito grande.
Por volta de 2004 reencontrei o Paulo, na ocasião ele me perguntou muito sobre música, quem era quem na música nacional e internacional naquele momento, pois segundo ele estava bastante enferrujado neste particular, deixara de comprar discos e sua vida tinha se concentrado essencialmente no seu trabalho profissional.
Passei a fazer algumas compilações musicais para o Paulo em mp3, reunindo a nata do jazz e da MPB, ou releituras geniais da bossa-nova, em síntese muita música de qualidade.
Esse contrabando musical depois se transformou em reuniões de sábados na Sol, e vez por outra em algumas edições musicais em minha casa, repetindo o hábito de meu pai e meus primos.
Em 2007 o Paulo Mazzini ressurge em nossas vidas, outro moicano musical daquele tempo. Mas foram poucas ocasiões que tivemos a oportunidade de reunirmos os 3. Tudo deixava antever que estávamos muito próximos de reeditar os saraus de meu pai. O Naldo sem problema algum se incorporaria ao meio sem titubear, caso isso acontecesse.
Aí me aparece um probleminha de saúde no Paulo, que necessitou operar e enfrentar período difícil de recuperação. Na cirurgia final que teve que realizar o Hospital não teve o mesmo zelo que o Paulo sempre teve com os próximos, e acabamos perdendo-o.
O Paulo se foi e deixou algo de bom dentro de nós: o seu lado positivo de ver a vida; mesmo nas adversidades que enfrentou; o gentleman; o bom gourmet; o riso cativante e a saudade de uma pessoa muito especial. Tão especial que o Jobim resolveu vir buscá-lo de sua agonia, justamente no dia que escolhera para falecer, 25 de janeiro.
Amanhã ainda é dia 1º de dezembro, e mesmo sabendo que vamos perder o Paulo no mês que se avizinha (janeiro), é muito bom dar espaço a felicidade para relembrá-lo no dia em que nasceu para nossas vidas.
P.S. Em homenagem ao PC a música dos próximos dois dias do blog é Felicidade de Jobim e Vinicius, na interpretação de Susannah McCorkle,(Disco: The Colors Of Latin Jazz-Shades Of Jobim – 2002).