Se Roniquito se limitasse a desfeitear os amigos, seria apenas um bebum inconveniente. Mas ele também não tinha a menor cerimônia com o poder, nem mesmo quando esse era o truculento poder militar.
Mas a maior sem-cerimômia de Roniquito para com o poder foi em 1967 e envolveu o marechal Costa e Silva, já presidente. Segundo a história muito bem contada por Ferdy Carneiro, Roniquito estava ciceroneando um figurão americano convidado do governo, a pedido de Nascimento Silva. Naquela manhã ele levara o visitante a almoçar no restaurante do Museu de Arte Moderna. Antes de irem para a mesa, resolveram reforçar-se no bar com alguns uísques – muitos uísques, porque o americano não enjeitava o serviço. Por coincidência, na mesma hora, Costa e Silva também estava no MAM para almoçar. A comitiva presidencial, sem as normas de segurança que depois se tornariam comuns, passou por Roniquito no momento em que este catava seu isqueiro no paletó para acender um cigarro. Com o cigarro no canto da boca, Roniquito viu o presidente. Avançou, cravou o queixo nas medalhas de Costa e Silva e perguntou: “O senhor tem fogo?”. Os seguranças, como que subitamente acordados de um rigor mortis, pularam sobre ele. O americano, sem entender o que se passava e já incapaz de fazer um quatro, se a isso fosse solicitado, balbuciou qualquer coisa como “Whatthegoddamfuckdoyouthinkyouredoin’” e foi também abotoado. Os dois foram levados para o 3º Distrito, na rua Santa Luzia, por desacato à autoridade. Diante do delegado, o americano esbravejava com voz pastosa: “I’m an American shitizen! Call the embashy!”.
O delegado perguntou: “Quê que o gringo tá falando?”.
“Ele tá dizendo que a polícia no Brasil é uma merda”, traduziu Roniquito.
“Ah, é? Pois ele vai ver o que é merda!”, bramiu o delegado.
O americano pediu para usar o telefone. Roniquito traduziu: “Ele está dizendo que no Brasil ninguém respeita os direitos humanos”.
“Direitos humanos é o cacete! Ele vai entrar no pau!”, ganiu o delegado.
O americano perguntou a Roniquito por que o delegado estava tão brabo.
Roniquito sussurrou para o delegado: “Agora ele está dizendo que o Brasil é uma ditadura facista”. Por sorte, quando estava prestes a ser apresentado ao pau-de-arara, o americano conseguiu mostrar um documento com o emblema do governo americano. Foi dado o telefonema e, em poucos minutos, chegaram as tropas da embaixada e do Itamaraty para libertar Roniquito e o gringo. Mas, por causa de Roniquito, conclui Ferdy, por pouco não se declarou uma guerra entre o Brasil e os Estados Unidos – tendo como pivô um palito de fósforo. Não admira que Roniquito não tenha sido levado a sério quando se ofereceu para ser trocado pelo embaixador Burke Elbrick, sequestrado em 1970.
O delegado perguntou: “Quê que o gringo tá falando?”.
“Ele tá dizendo que a polícia no Brasil é uma merda”, traduziu Roniquito.
“Ah, é? Pois ele vai ver o que é merda!”, bramiu o delegado.
O americano pediu para usar o telefone. Roniquito traduziu: “Ele está dizendo que no Brasil ninguém respeita os direitos humanos”.
“Direitos humanos é o cacete! Ele vai entrar no pau!”, ganiu o delegado.
O americano perguntou a Roniquito por que o delegado estava tão brabo.
Roniquito sussurrou para o delegado: “Agora ele está dizendo que o Brasil é uma ditadura facista”. Por sorte, quando estava prestes a ser apresentado ao pau-de-arara, o americano conseguiu mostrar um documento com o emblema do governo americano. Foi dado o telefonema e, em poucos minutos, chegaram as tropas da embaixada e do Itamaraty para libertar Roniquito e o gringo. Mas, por causa de Roniquito, conclui Ferdy, por pouco não se declarou uma guerra entre o Brasil e os Estados Unidos – tendo como pivô um palito de fósforo. Não admira que Roniquito não tenha sido levado a sério quando se ofereceu para ser trocado pelo embaixador Burke Elbrick, sequestrado em 1970.
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